sexta-feira, 24 de julho de 2009

Em sintonia com o Universo

Extraído da internet

Disponível em : http://www.teosofia-liberdade.org.br/index.php/arquivos/artigos/44-artigos/122-em-sintonia-com-o-universo.html

Em Sintonia com o Universo
Seg, 30 de Junho de 2008 20:08

Radha Burnier

A harmonia é de importância vital para a Humanidade. Estar sem sintonia com outras pessoas, com o meio ou com nós mesmos, é fazer enorme dano aos relacionamentos e ao nosso próprio progresso. O dano que fazemos a nós mesmos nunca pode estar separado do dano que fazemos aos outros. Somos responsáveis pelo todo. Aqueles que estão interiormente bem harmonizados e integrados irradiam harmonia e felicidade onde quer que estejam e em tudo que fazem. Por outro lado, quando há discórdia interna, ela alimenta a discórdia externa. Além disto, como diz A Voz do Silêncio: "Antes que a alma possa ver, deve-se atingir a harmonia interior." Toda discórdia cega a visão e retarda o progresso humano. O Universo não é um caos mas um cosmo, tão perfeitamente sintonizado que aqueles que o compreendem através do estudo e da contemplação ficam sem fala, completamente assombrados. Em seu livro Apenas Seis Números, com o subtítulo de "As Profundas Forças que Modelam o Universo", o autor Sir Martin Rees escreve sobre seis números, alguns deles muito pequenos e outros muito extensos, que constituem a "receita" para o Universo. Se qualquer deles fossem aumentado ou diminuindo mesmo em pequena escala, não haveria estrelas nem vida. Por exemplo, se a razão existente entre a gravidade e a energia que se expande tivesse sido ligeiramente diferente, o Universo deveria ter desaparecido há muito tempo, nem galáxias ou estrelas poderiam ser formadas. Fazemos a pergunta: "Esta harmonia é apenas um fato irracional, uma coincidência?"De acordo com os antigos indianos, a ordem cósmica era chamada de Rta. Um nível superior e inimaginável de harmonia que mantém a ordem cósmica em relação não somente com os fatos percebíveis e mensuráveis dos quais os cientistas tomam conhecimento, mas que existe em dimensões sutis com as quais a ciência não se ocupa.Para os antigos, Rta era a harmonia total, a base para todos os fenômenos nos campos e nas dimensões visíveis e nas profundezas invisíveis da existência. David Bohm deve ter tido uma visão deste aspecto quando escreveu em A Totalidade e a Ordem Implícita sobre a totalidade indivisa no movimento harmonioso e numa ordem implícita que "constitui um aspecto fundamental da realidade".O ouvido de um músico hábil é tão sensível que ele se torna consciente até mesmo do menor desvio na harmonia dos sons. Ele escuta diferenças leves que seus ouvintes podem não notar e cada vez que seja necessário ajusta a corda para manter harmonia perfeita. Cada músico de uma orquestra também cuida para manter a excelência musical: por integrarem o Todo, mesmo leves nuanças são importantes.A ordem cósmica ou Rta, numa escala vasta e quase inescrutável, pode ser semelhante. Há uma inteligência e um poder criativo (o músico chefe) que restaura a harmonia do Universo, mesmo se ele for perturbado em escala muito pequena. Este é o trabalho do Karma ou Karma-Nemesis, como a Sra. Blavatsky o chamou em A Doutrina Secreta. Ela diz que "o único decreto do Karma – um decreto eterno e imutável – é a Harmonia absoluta no mundo da Matéria bem como no mundo do Espírito. Contudo, não é o Karma que nos recompensa ou pune, ao agirmos através e com a Natureza, obedecendo leis das quais dependem a harmonia, ou – quebrando-as." (DS II.368). HPB também diz neste contexto que enquanto o efeito de haver perturbado "o menor átomo no Infinito Mundo de Harmonia" não tenha sido reajustado, o "fazedor do mal" sofre o que ele pensa ser retribuição. Ele experimenta o que chamamos de "dor" e luta para fugir dela, e, por ignorar o que acontece, age de tal maneira que cria mais perturbação.A tradição antiga também afirma que, invisível à nossa percepção, existem muitos tipos de seres, dotados de inteligência em medidas variadas, que estão num estado de harmonia inconsciente com a Natureza e que espontaneamente fazem o "Grande Trabalho". Eles alegremente cumprem seu papel na sinfonia cósmica.Assim fazem todas as criaturas subumanas que conhecemos. Somente para os seres humanos surge a indagação de como estar em sintonia com o Universo. Nós, que estamos tão fora de sintonia, sentimos a infelicidade de disputar e almejar a paz, o amor e a beleza.Mas felizmente a consciência humana tem o poder de observar, pensar e entender suficientemente o Universo no qual se encontra para compreender a responsabilidade do indivíduo na preservação da harmonia. Por nosso próprio esforço em ver e entender a vida, devemos compreender que as condições caóticas da sociedade humana resultam de contradições em nós mesmos. Por conseguinte, o remédio está em nossas mãos. Se tentarmos entender, nossa consciência poderá fazer a transição para um novo nível de conhecimento da ordem universal, de seu significado e de sua beleza.A evolução não é simplesmente um crescimento do menor para os grandes graus de complexidade da forma, mas também um florescimento da consciência em níveis mais altos de percebimento. Este percebimento inclui uma apreciação das energias fundamentais do cosmo e não se refere necessariamente ao conhecimento dos detalhes. É uma visão dos princípios divinos que se manifestam em cada detalhe bem como no fluxo geral. Diz a tradição que a omnisciência de Buddha consiste no poder de saber tudo em vez de conhecer detalhes, como quantos fios de cabelo existem na cabeça de um homem!O fluxo da manifestação revela estes princípios divinos em vários graus através dos vários fenômenos e funções. No fluxo de uma cachoeira vemos um movimento firme embora haja alteração constante. A cintilação mudando em oposição ao fundo num estado uniforme, nos permite experimentar um deleite e um sentido de algo novo a cada instante. A sombra, ou mundo fenomênico, é movimento e mudança infindáveis, mas sob o movimento está o imóvel e perpétuo Ser – um paradoxo que se repete de outras maneiras. A ordem do Universo abarca uma diversidade imensa de formas e padrões. A energia criativa que o mantém, produz constantemente novas coisas; pois nada se repete, nem mesmo uma folha de árvore é igual à outra. A Natureza parece abominar a clonagem e a conformidade. Ainda assim, em meio à surpreendente diversidade da vida, existe um misterioso elo unindo todas as coisas num todo. O ser humano é como uma gota na vastidão e profundeza do oceano da existência, aparentemente separado mas inseparável dele.Estes paradoxos são todos parte da música das esferas. A grande sinfonia da Natureza é tocada por diversos instrumentos, músicos, melodias, ritmos, etc. Uma parábola sufi conta a seguinte história: o grito agudo de um corvo encomodou algumas pessoas, e estas, irritadas, o enxotaram. Então, o Senhor convocou seus auxiliares e perguntou por que um membro de sua orquestra estava faltando. Podemos dizer, desta forma, que cada elemento específico tem seu valor por enriquecer o todo, mas é o todo que é a "música das esferas". É maravilhoso pertencer à raça humana porque podemos aproveitar a beleza e a novidade de todos os elementos diferentes e também compreender que eles fazem parte da totalidade. De fato eles são o Todo mostrando uma parte de sua natureza, assim como a Luz mostra as cores do arco-íris. Cada unidade tem o potencial da diversidade, e todas as diversidades desaparecem na unidade. O problema do homem é que nossas contradições internas têm sua base no grande paradoxo da manifestação, enquanto o Supremo mostra-se apenas como Ele. O Visconde de Nouy, em seu livro Destino Humano, como outros pensadores, especulou sobre os objetivos essenciais da evolução e sugeriu que eles incluem harmonia, liberdade e individualidade. Na média humana, a afirmação da individualidade destrói a harmonia e aparece para firmar a liberdade. A diversidade de formas e espécies é um meio para evoluir cada vez mais as caraterísticas individuais. Por exemplo, há enorme diferença entre um mosquito e um elefante, não apenas pelo tamanho, mas porque no primeiro dificilmente há individualidade, enquanto o último é notoriamente individual na aparência, comportamento e inteligência. O ser humano avançou ainda mais longe nesta direção. Mas através de milênios, a evolução da consciência também desenvolveu a liberdade e um sentido de harmonia. Organicamente houve evoluções: o animal é fisicamente mais livre do que a planta, e a Humanidade é ainda mais livre.Internamente também o progresso está sendo feito em direção à liberdade. Contudo, nas vidas da maioria dos seres humanos há a aparente contradição entre a necessidade de harmonia de um lado e a individualidade do outro lado. Isto foi resolvido nos primeiros estágios pré-humanos pelos próprios ajustes da Natureza. Mas no ser humano autoconsciente há conflito e luta. Ele quer relacionamentos, e ainda assim seu egoísmo arruina as oportunidades de experimentá-los alegremente. A afirmação da individualidade (que é egoísmo), é a causa primordial de nossa desarmonia. Semelhantemente queremos liberdade, mas também precisamos de ordem – este dilema não é apenas individual, mas também um dilema social e nacional.Portanto nosso maior problema é: Podemos ser livres sem criar situações caóticas e dolorosas? Podemos alimentar a latente singularidade em nós, sem estarmos lutando? Muito depende de como entendemos a nós mesmos e aos valores que estão na substância básica do Universo.Os valores universais e infinitos do cosmo são desligados e independentes das coisas externas. Como disse um poeta:"Paredes de pedra não fazem uma prisão
nem barras de ferro uma jaula."
Um prisioneiro é tão livre quanto o homem supostamente livre mas escravo da paixão, da cobiça, da raiva ou da inveja. Da mesma forma, a verdadeira individualidade não é apenas mostrar importância ou exibir conhecimento. O que chamamos de valores fundamentais – liberdade, singularidade, harmonia, felicidade e paz – são caraterísticas da alma. Elas não dependem de algo externo para existir. Acreditar que podemos encontrá-las fora, manipulando relacionamentos, adquirindo propriedades ou alterando as circunstâncias, é causa de discórdia e sofrimento. Estes valores são facetas de nossa verdadeira natureza e da consciência universal. Quando compreendermos nossa verdadeira natureza, estaremos em sintonia absoluta com o Universo.
Extraído da revista The Theosophist, de maio de 2001
Tradução: Izar G. Tauceda, MST

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